Não esquente com o meu copo de drama; é vitalício pra minha saúde. Não a saúde do coração, nem a saúde do cérebro, mas a saúde do inconsciente, então, não esquente, mesmo. Eu só preciso volta e meia materializar a inquietude e tomar o papel da vítima - não porque o sucesso do predador me assusta, mas porque a inocência da fragilidade me seduz. Então me deixe ser uma criança nessas tardes de chuva; me deixe sentir medo do farol de trás que se aproxima rápido e o medo dos seus pensamentos se acercando dos meus. Apenas me permita o luxo de não me responsabilizar pelos meus próprios desvios, uma só vez, só uma. Me deixe chorar por bobagem, me deixe xingar o mundo porque estou com raiva dele e xingar você porque te quero bem e sei que não vai me deixar aos prantos num beco urbano qualquer. Hoje eu preciso simplesmente gozar da certeza da razão, mesmo que uma razão ilógica, mesmo que infantil. Hoje eu só quero deitar a cabeça naquele travesseiro e imaginar que poderia arranhar as costas num chão de supermercado e gritar até toda a irracionalidade sumir - e levar com ela essa vontade de me tonar tão só.