O sol do meio-dia

Um mundo lamacento vem tomando conta deste interior, proliferando seus musgos nojentos e seus organismos patógenos. Há mais de anos que se instala como um habitát parasita, ignorando os apelos de pequenas larvas silvestres. Este mundo se expande como a teoria reversa ao Big Crush. A vida é rala e pouco se aproveita. O solo é infértil e pouco se planta - apenas as ervas daninhas usufruem dos nutrientes escassos e da luz solar que pobremente penetra a folhagem seca.
O mar se exalta, as ondas adquirem proporções gigantescas, e o furioso oceano declara guerra à toda aquela tristeza.
E, num tsunami de valores intangíveis, a lama corre na velocidade da luz, limpando o terreno, abrindo caminho para as sementes escondidas.
O sol do meio-dia já não vê obstáculos, seus raios invadem aquela terra carente e a enchem de vontade. Os resquícios de fraqueza murcham sob o peso daquele calor desconhecido. E há a persistência precoce de se querer tentar de novo; há uma gama de possibilidades para aqueles pequenos seres escondidos dentro das cavernas escuras.

Lá fora o dia é outro, e o mundo não é mais viscoso. A força das marés e das palavras exime o interior das depressões infundadas e dos olhares coalhados. Tardes melhores virão dali pra frente.